sábado, 26 de dezembro de 2009

Uma noite de Natal



"Os flocos de neve caíam do outro lado da janela. Do seu quarto na ala psiquiátrica, uma mulher observava a imensidão branca. Lágrimas escorriam de seu rosto. A sineta tocou, anunciando a hora do jantar. Ela se dirigiu a porta, e pousou a mão na maçaneta, pensativa. Lembrou-se daquele dia de manhã. O salão estava abarrotado de gente. Todos os pacientes estavam com seus familiares, e alguns riam ao ver alguns deles imitando animais, ou se comportando feito crianças mimadas. Ela tinha permanecido no quarto. Todo natal era a mesma coisa. Após 17 anos naquele mesmo hospital, havia se acostumado com a rotina. Não recebia visitas, nenhuma. Nenhuma desde aquele dia. Um maldito dia de Natal. Era 25 de Dezembro de 1992. Ela era casada, com um homem maravilhoso, e estava grávida de seu primeiro filho. Seu marido tinha saído com a mãe dela para comprar o peru de Natal que tinha sido esquecido. Ela estava pendurando efeites na árvore quando sentiu um aperto no coração. Desceu da escada e sentou-se no chão. A dor passara, mas a sensação continuava. Passou alguns minutos e ela notou que estavam demorando. O telefone da sala tocou. Ela se levantou e foi atender. O homem falava rápido, e perguntou se ela conhecia algumas pessoas. Era de um hospital, e as pessoas, eram seu marido e sua mãe. Vestiu seu casaco e chamou um táxi. O trânsito estava horrível, e as ruas cobertas de neve não ajudavam. O hospital cheirava a remédios. Ela foi a recepção e perguntou pelo nome deles. E recebeu a notícia. Seu marido e sua mãe tinham sofrido um acidente, e tinham morrido instantaneamente. Ao receber a noticia, sentiu-se tonta e caiu no chão. Sua roupa se manchou de sangue. Havia perdido o bebê. Ela perdeu tudo, toda a família que lhe restava, em uma noite de Natal. E ela odiava o Natal por isso. Voltou a realidade. Abriu a porta e adentrou pelos corredores apinhados de pacientes. O hospital tinha proposto que cada paciente escrevesse uma carta ao Papai Noel, pedindo o que queria. Depois, os funcionários iam ler as cartas, e repassá-las às familias, ou tentar realizar por conta própria o pedido. Tinha uma caixa cheia de cartas. E numa dessas cartas, estava o pedido dela. Naquela noite, o Papai Noel iria entregar os presentes que haviam sido pedidos. Uns ganharam um boneco de pelúcia, outro, um chapéu de Napoleão. A medida que iam pegando seus presentes, os pacientes voltavam aos seus quartos. A carta dela foi a última. O senhor gordo vestido de vermelho olhou pra ela. Ele tirou de um outro saco, um caixa com furos. Ela abriu a caixa e tirou um pequeno cachorrinho de lá de dentro. Era bonito, de pêlo macio e reluzente, e a acariciava com dezenas de lambidas. Os funcionários não podiam deixar um animal permanecer no hospital, porém o senhor levantou a mão, e disse: Deixe ele ficar, ao menos esta noite. Eles relutaram muito, mas no fim concordaram. Ela o pegou carinhosamente, agradeceu ao senhor e este lhe deu a carta dela. Ela sorriu e dirigiu-se ao seu quarto. A noite passou. Na hora do café da manhã, os funcionários notaram a falta dela. Foram até o seu quarto, e a encontraram-na enroscada na cama, com o cachorrinho no seu colo, e ele com a carta na boca. Ambos estavam mortos. Um dos funcionários pegou a carta, e a leu. Seus olho encheram de lágrimas, e ele passou a enfermeira. Ela leu em voz alta.


Eu não tenho casa, eu não tenho família. Tenho medo de morrer e não ter quem se lembre de mim. Tenho medo de viver e não ter pra quem voltar. Sinto falta da minha família, queria estar perto dela. Eu queria um anjo para me guiar ao caminho certo.


Eles enxugaram as lágrimas, e enrolaram os corpos num lençol, juntos. E assim, ela passou a amar o Natal, pois havia se encontrado com sua familia..."


Autora: Morgana P. Costa

2 comentários:

  1. Que este ano que se inicia seja regido por muita paz, que o amor reine no coração de todos e que você realize seus desejos.
    Que 2010 seja um sucesso!
    Feliz Ano Novo!!!! \o/ \o/

    beijos
    boas festas!!

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  2. Morgana,
    Que 2010 seja feito de alegrias
    Que o desejo de escrever cresça mais e mais
    e que vc colha em cada texto mais e mais prazer;
    feliz,2010
    Abraços

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